Facebook, e igreja, podem estar te deixando triste
Por que o Facebook (e sua igreja) podem estar te deixando triste
Fomos
avisados que mídia social pode nos distrair, diminuir nossa atenção,
nos desligar de relacionamentos da vida real. Agora um novo estudo
sugere que o Facebook também pode tornar-nos infelizes. Eu suspeito que
há alguma medida de razão nisto, e não é apenas sobre o Facebook.
Trata-se de nossas igrejas.
A revista Slate cita
um artigo em uma revista de psicologia social que iniciava com uma
observação sobre como os estudantes universitários se sentiam mais
desanimados após fazerem logon no Facebook. Havia algo que os
entristecia ao “percorrer outros perfis e fotos legais, biografias
vencedoras, e atualizações de status.” Os alunos tiveram o humor
obscurecido porque acreditavam que todo mundo era mais feliz que eles.
A
jornalista Libby Copeland especula que o Facebook pode “ter um poder
especial de nos fazer mais tristes e solitários.” Como pode acontecer
isso, no entanto, quando o Facebook geralmente é assim… bem, feliz,
cheio de rostos sorridentes e famílias bonitas? Bom, esse é justamente o
ponto.
“Ao
apresentar a parte mais espirituosa, alegre de vidas tão bonitas, e
convidar as pessoas a constantes comparações em que tendemos a nos ver
como os perdedores, o Facebook parece explorar o calcanhar de Aquiles da
natureza humana”, escreve Copeland. “E as mulheres, um grupo
especialmente infeliz, podem tornar-se especialmente vulneráveis ao se
informarem sobre o que imaginam ser a felicidade dos vizinhos.”
Sim,
Copeland escreve, o Facebook pode registrar crianças bonitinhas e
momentos agradáveis, mas isso nunca é o todo, ou mesmo a maior parte, da
história de vida de qualquer pessoa. “Lágrimas e acessos de raiva
raramente são registrados, nem os surtos de maluquices”, escreve ela.
Agora,
em um sentido, quero falar com quem realmente se preocupa com o
Facebook. Se você é aquele que se compara aos outros, desligue a tela do
computador e faça uma desintoxicação do brilho azul dela. Mas ao mesmo
tempo, me parece, o mesmo fenômeno está presente nos bancos de nossas
igrejas cristãs.
Nossos
“bem sucedidos” pastores e líderes sabem sorrir. Alguns deles fizeram
escovinhas e usam abotuaduras, outros são grunges e usam cabelo
bagunçado. Mas eles estão aqui para nos “empolgar” sobre “o que Deus
está fazendo em nossa igreja.”
Nossas
músicas de adoração são tipicamente celebrativas, tanto nas letras
quanto na expressão musical. Na última geração, uma canção triste sobre a
crucificação foi animada com um coro bem alegre: “Foi ali pela fé que
um dia eu vi, e agora estou feliz o dia todo!”
Este
não é apenas um problema da grande geração reavivalista. Mesmo as
músicas de adoração contemporâneas que vêm diretamente dos Salmos tendem
a se concentrar em salmos de crescimento ou de exuberância alegre, não
salmos de lamento (e certamente não em salmos imprecatórios!).
Podemos
facilmente cantar com o profeta Jeremias: “grande é a tua fidelidade”
(Lm 3:23). Mas quem pode se imaginar cantando, na igreja, com Jeremias:
“Cobriste-te de ira, e nos perseguiste; mataste, não perdoaste.
Cobriste-te de nuvens, para que não passe a nossa oração. Como escória e
refugo nos puseste no meio dos povos.”(Lm 3:43-45).
Essa sensação de jovialidade forçada é visto nas “liturgias” ad hoc¹
da maioria das igrejas evangélicas na saudação e na despedida. Ao
começar o culto temos um pastor sorrindo ou um líder de louvor
empolgado: “É ótimo ver você hoje!” Ou “Estamos felizes por você estar
aqui!”. Ao terminar o culto o mesmo semblante sorridente e cheio de
dentes diz: “Vejo vocês no próximo domingo! Tenham uma ótima semana!”
Claro
que teremos. O que mais poderíamos fazer? Estamos alegres no Senhor,
não estamos? Queremos incentivar as pessoas, não é? E, no entanto, o que
estamos tentando fazer não está funcionando, mesmo nos termos que
estabelecemos para nós mesmos. Suspeito que muitas pessoas em nossos
bancos olham ao redor e acham que os outros têm a felicidade que
continuamos prometemos, e se perguntam por que ela passou por elas sem
avisar.
Ao
não falar, quando a Bíblia fala, sobre toda a gama de emoções humanas,
incluindo a solidão, a culpa, a desolação, raiva, medo, desespero,
apenas deixamos o nosso povo perguntando por que eles simplesmente não
podem ser “cristãos” o suficiente para, afinal de contas, sorrir.
O
evangelho fala uma “língua” diferente, no entanto. Jesus diz: “Felizes
os que choram, porque serão consolados” (Mt 5:4). No reino, recebemos o
conforto de uma forma muito diferente do que somos ensinados em nossa
cultura. Recebemos o conforto não por, de um lado, chorar por nossos
direitos ou, por outro lado, fingir nossa felicidade. Somos consolados
quando vemos o nosso pecado, nossa fragilidade, nossa situação
desesperadora, e lamentamos, choramos, clamamos por libertação.
É
por isso que Tiago, irmão de nosso Senhor, parece tão fora de sintonia
com o ethos contemporâneo evangélico. “Senti as vossas misérias, e
lamentai e chorai”, ele escreve. “Converta-se o vosso riso em pranto, e o
vosso gozo em tristeza” (Tiago 4.9). O que aconteceria a um líder de
igreja que terminasse o culto dizendo ao seu povo: “Tenha um dia
infeliz!” Ou “Espero que todos chorem bastante esta semana!” Soaria como
louco. Jesus sempre parece louco para nós, à primeira vista (Jo 7.15,
20).
Ninguém
é tão feliz quanto parece no Facebook. E ninguém é tão “espiritual”
quanto parece com o que julgamos como “espiritual” o bastante para o
culto cristão. Talvez o que precisamos em nossas igrejas são mais
lágrimas, mais falhas, mais confissão de pecados, mais orações de
desespero que são profundas demais para palavras.
Talvez,
então, os solitários, culpados e os desesperados entre nós verão que o
evangelho não chegou para o feliz, mas para os contritos de coração, não
para o saudável, mas para o doente, não para os achados, mas para os
perdidos.
Portanto,
não se preocupe com as pessoas felizes e deslumbrantes do Facebook.
Elas precisam de conforto e libertação tanto quanto você. E, mais
importante, vamos deixar de ser essas pessoas felizes e deslumbrantes
quando nos reunimos em adoração. Não tenhamos vergonha de gritar de
alegria e não tenhamos vergonha de chorar de tristeza. Vamos nos educar,
não para fazer publicidade, mas, para a oração, por arrependimento e
por alegria.
Tenha um dia infeliz (e um abençoado também).
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